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- Kotaku entrevista Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft no Brasil
Durante os três dias de GameWorld, em São Paulo, conversamos com os gringos Reuben Langdon (USA) e Yoshitaka Amano (Japão). Mas também falamos com um gringo bem brasileiro: Bertrand Chaverot (França), diretor da Ubisoft por aqui.
Quando sentamos para conversar, a Ubisoft havia acabado de anunciar que Assassin’s Creed III
seria completamente localizado para o português do Brasil, incluindo
dublagens (com sotaque yankee-macarrônico?). Na entrevista a seguir,
Bertrand fala da trajetória dessa série que começou com um jogo
ruinzinho, corrigiu sua trajetória, virou blockbuster e agora já vende
até livros no Brasil (72.000 unidades). E ainda falamos de Rocksmith, Ghost Recon, Rayman e Acigames.
Kotaku: Vocês anunciaram hoje que vão lançar Assassin’s Creed III dublado em português. Como foi tomar essa decisão de dublar o jogo?
Bertrand: Muito difícil (risos). Nós já estávamos convencidos de que tínhamos que fazer isso. Ano passado fizemos o Assassin’s Creed Revelations, com legendas em português do Brasil pela primeira vez [vídeo abaixo]. Obviamente, o mercado cresceu e investimos muito mais dinheiro em marketing na última vez do que em Assassin’s Creed Brotherhood, o anterior, e também baixamos o preço de R$ 199 para R$ 149. O resultado é que Brotherhood vendeu 50 mil cópias e o Revelations vendeu 150 mil.
Vimos que isso é bom para as vendas, já que com 150 mil unidades, hoje temos um mercado grande o suficiente para convencer os produtores dos jogos “triple-A” (os jogos mais populares e de orçamento milionário) a fazer sempre legendas em português, e até dublagem para o games maiores – como o Assassin’s Creed IIIÉ um investimento superpesado, são mais de R$ 500 mil de custo de dublagem, mas acho que isso é simbolicamente muito forte, marca um novo patamar para o mercado brasileiro, que chegou a um tamanho suficiente para ter investimentos pesados em marketing e trade marketing com as distribuidoras.
O estúdio de dublagem fica no Brasil ou no exterior?
A dublagem da Ubisoft é feita por um estúdio interno que cuida de tudo isso, trabalhando com cada projeto, e eles que são os responsáveis por achar os bons atores e fazer a dublagem. Eu confio na qualidade das dublagens da Ubisoft.
É porque vários jogos foram dublados para o português, mas eles tiveram muita reclamação sobre a tradução e a qualidade da dublagem. Então, obviamente, essa é uma preocupação que também vale para o Assassin’s Creed III. Você acompanharam a repercussão de alguns trabalhos das outras empresas?
Como Uncharted, Killzone, Gears of War… eu sei. Vamos tentar fazer o nosso melhor.
E o preço sugerido do novo Assassin’s Creed será o mesmo do Revelations?
Isso ainda não está decido. Vai depender da cotação do dólar, dos jogos da concorrência e do custo final da dublagem. Talvez terá um custo um pouquinho maior para compensar a dublagem mesmo.
Vocês planejam lançar alguma edição limitada do jogo aqui no Brasil?
Sim, vai ter uma edição limitada para a pré-venda, então fiquem ligados.
O conteúdo da edição limitada, como os mapas e livros, também vai ser traduzido?
Não sabemos se vamos traduzir isso ainda, não está 100% decidido. Uma boa notícia é que estamos discutindo um acordo com uma editora brasileira para lançar, em português, a enciclopédia que estava dentro da edição limitada de Revelations, que era toda em inglês.
Nós queremos passar tudo para o português porque essa franquia pegou muito bem no Brasil. Ela virou uma franquia culta, já que vimos esse crescimento principalmente nos videogames, mas também nos livros.Por exemplo, o primeiro livro sobre Assassin’s Creed saiu no ano passado, em setembro, e a previsão era de vender apenas mil livros. Todo mundo sabe que no Brasil, vender cinco mil unidades já é um sucesso de vendas. Então fizemos apenas mil através da editora Record, no Rio de Janeiro, e eles venderam tudo em uma semana. Fizemos mais cinco mil, vendemos de novo tudo em uma semana. Aí, fizemos mais alguns lotes de 10.000, vendemos um total de 30.000 logo antes do natal, e com as vendas do período de fim de anao, chegamos a 72.000 unidades vendidas do primeiro livro. Foi incrível! Eles lançaram o segundo livro há uma semana, e já temos uma tiragem inicial de 60.000 cópias. Isso é engraçado, arranjamos um público que não curte só o jogo, mas também o universo inteiro de Assassin’s Creed.
A Ubisoft voltaria a montar um estúdio aqui no Brasil?
Eu cheguei aqui em 2008 para fazer exatamente isso, montamos um estúdio em São Paulo, compramos um estúdio em Porto Alegre, mas encerramos tudo no fim de 2010. O Brasil é caro demais por conta dos impostos, além de ser caro para importar os kits de desenvolvimento. Por enquanto não vamos voltar, ainda faltam muitas reformas a serem feitas e estamos longe de o Brasil oferecer um ecossistema ágil e eficaz para desenvolver jogos aqui. Infelizmente.
Hoje tivemos o anúncio da Acigames confirmando que eles agora têm um conselheiro para falar sobre games no governo. Além disso, com uma emenda, os games estão incluídos na Lei Rouanet. O cenário tende a melhorar com essas iniciativas?
Acho que já melhorou e que essa é uma boa iniciativa. Não muda radicalmente os problemas do Brasil, mas já incentiva empresas menores que querem começar a fazer jogos ou aplicativos para smartphones, como o iOS e Android, e também para a Xbox Live. Mas isso vale apenas para as pequenas empresas que não precisam de kit de desenvolvimento, que não precisam de muitos investimentos.
O problema de grandes projetos é que você tem que fazer muitos investimentos, como material e treinamento, e isso no Brasil é caro.Todo ano, imagina, aqui você tem um dissídio de 6 a 8 %, é um absurdo, não dá pra manter a competitividade. Começamos em 2008, tivemos 3 anos com a taxa de dissídio entre o 7% e o 8%, uma valorização de 50% do real comparado ao dólar e de repente tudo ficou mais caro que nos EUA, e com um time menos preparado que os de lá. Eles estão fazendo jogos há 20 anos.
Então é esse o problema do Brasil, temos que liberalizar um pouco as regras de trabalho, mas ao mesmo tempo, eu entendo que temos que manter um pouco do protecionismo, porque a indústria brasileira ainda é muito jovem, não está num nível internacional, então é uma questão difícil.
A projeção da própria Acigames é que o Brasil vá alcançar uma posição de destaque no cenário internacional em termos de desenvolvimento de games logo em 2016. Essa previsão é realista?
Em 2016, quatro anos? Olha, nós da Ubisoft, para montar um estúdio de qualidade e complexidade, como os de Montreal, ou de Paris, estimamos que demora no mínimo cinco anos para alcançar algo do gênero. É muito importante começar com jogos menores – aliás, essa era a nossa estratégia no Brasil – para DS, depois para o 3DS, depois o Vita. Porque demora para chegar num jogo para o PlayStation 3. Então 2016 é um pouco complicado. Hoje não tem nenhum estúdio no Brasil que já tenha lançado jogo para o PS3 ou Xbox, por exemplo.
Qual foi o resultado de lançar Rayman Origins a R$ 99 no ano passado? Vocês pretendem tomar uma atitude agressiva como essa em 2012?
A Ubisoft sempre gosta de fazer apostas. Ano passado também tivemos um jogo de guitarra, Rocksmith, em que você usa uma guitarra de verdade, e colocamos a um preço muito alto, R$ 279. Ficamos com medo, mas deu muito certo! As vendas foram bem além das nossas previsões, colocamos nas lojas, vendeu tudo e esgotou em uma semana. É importante fazer apostas. Com Rayman, fizemos o contrário. Ele é o nosso mascote, nosso jogo mais histórico, e sabíamos que Rayman Origins era um jogo fantástico, realmente era um colírio para os olhos, com multiplayer e tudo. Vocês jogaram?
Sim.
É fantástico. Mas a marca não era muito forte no Brasil, não tanto quanto Mario ou Sonic, então decidimos fazer uma aposta: vendemos a R$ 99, ou US$ 50, aproximadamente. Nos EUA, o game foi lançado a US$ 69, então foi a primeira vez que uma publisher lançou um jogo no Brasil com preço menor do que nos EUA. Isso é muito bom para nós em termos de imagem, também, para mostrar para o público que estamos investindo no Brasil. Acreditamos no Brasil, fazemos o maior esforço, não estamos aqui para ganhar dinheiro simplesmente, mas estamos aqui para investir no futuro.
Mas o resultado foi muito bom. Hoje, já chegamos a quase 10 mil unidades vendidas. Você vê que não é igual ao Assassin’s Creed, claro, é outro tipo de jogo também.
Mas acho que pra esse ano vamos ter muitos lançamentos, e os preços mais baixos vão estar mais próximo da casa dos R$ 129, que já é um preço bom, mesmo porque R$ 99 talvez não valha a pena pra gente.Foi bom para esse jogo porque era uma emergência. É um jogo super bom, que vinha um pouco sem ninguém saber sobre o que se tratava. Para o futuro, teremos Rayman Origins 2 [NOTA: A Ubisoft corrigiu a informação posteriormente, informando que o jogo ainda não tem nome, data ou preço definidos], queremos ir além, então vamos fazer mais marketing esse ano. Hoje fica bem claro na cabeça das pessoas da localização que a Ubisoft Brasil tem um potencial superior as Ubisofts da Espanha, Itália e México. Daqui a dois ou três anos seremos um dos principais países dentro do mercado de videogames, então temos que investir hoje, construir as marcas, e atingir esse público A, B e C.
O público C normalmente não fala inglês, então temos que legendar para o português. Tem que investir também em distribuições populares, como nas Casas Bahia, no Extra, e no Carrefour. Normalmente, daqui para frente, todos os triple-As serão em português.
O Ghost Recon Future Soldier também vai ser em português?
Sim, e vai sair por R$ 149.
Qual é a estimativa de vendas de Assassin’s Creed III?
O Brotherhood vendeu 50 mil sem legenda, o Revelations 150 mil com legenda, agora o Assassin’s Creed III, apesar de ser um pouco mais caro – acredito que vai ser difícil vender a menos de R$ 179 – mas será dublado, com uma campanha de marketing três vezes maior, e uma base instalada que é o dobro do que tínhamos no Revelations. No entanto, quantidade razoável de vendas que eu planejei no meu business plan desse ano é de entre 250 mil e 300 mil. Isso nos coloca no top seis de todas as vendas no mundo. [Entrevista por Fernando Mucioli e Pedro Falcão]
Via: Kotaku